segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Ciganos, maioria absoluta do alvo preconceituoso - parte I

Por Claudia Baibich

Atualmente vemos movimentos em todo o mundo debatendo todo tipo de preconceito e um crescente sentimento de aceitação das diferenças. Mas muitos de nós, continuamos com nossos preconceitos enraizados e não os assumimos, para que sejamos vistos como politicamente corretos.

Segundo a Enciclopédia Internacional de Ciências Sociais (apud Grupioni, 1995, p. 484), o preconceito é uma “opinião não justificada, de um indivíduo ou grupo, favorável ou desfavorável, e que leva a atuar de acordo com esta definição”. O preconceito gera a discriminação, que é o “tratamento desfavorável dado arbitrariamente a certas categorias de pessoas ou grupos, que pode ser exercido de forma individual ou coletiva, sobre um indivíduo ou um grupo de pessoas” (Grupioni, 1995, p. 484).

Todos temos preconceitos, fomos educados num mundo separatista, onde ideologias religiosas e elitistas tentam sobrepor-se umas às outras.
Um homossexual que luta por seus direitos, muitas vezes tem preconceito em relação a um negro. Como um negro bem sucedido também pode ter preconceito em relação à uma pessoa que considere pobre ou miserável. O intelectual que teoriza sobre a defesa das minorias, pode ter preconceito em relação ao rapaz que trabalha pesado, vai ao baile funk e gosta  filme trash.
A questão é tão presente e profunda que mesmo entre grupos que consideram-se vítimas de preconceito, existe o preconceito, vamos aos exemplos:

Cristãos têm preconceito em relação aos que consideram pagãos ou hereges, mas entre cristãos, há dissidência e intolerância como entre católicos e evangélicos.

Médiuns, que são alvos constantes de ataque ou ironia tanto por religiosos quanto por psiquiatras, têm preconceitos uns com os outros. O Kardecista radical acha os ritos umbandistas atrasados. O umbandista radical acha os ritos candomblecistas inferiores pelo uso do sangue. Os candomblecitas acham os ritos pagãos da velha religião inferiores ao seu. Wiccanianos radicais acham o candomblé primitivo.
E vai por aí afora. Isso sem falar que dentro de uma mesma religião, também existe preconceito, inaceitações rituais e dissidências: umbandistas que seguem a umbanda esotérica, têm ritos e liturgias bem diferentes dos que seguem a Umbanda Omolokô, por exemplo. E mesmo entre os que seguem a mesma religião e a mesma linha interpretativa, ocorre o preconceito tipo o meu grupo (templo, terreiro, igreja) é melhor que o outro.

Todos nós, podemos ser categorizados como rotos falando do esfarrapados.
E que atire a primeira pedra, quem disser: Eu não tenho nenhum tipo de preconceito! Digo-lhes : Mentira! - Faça um trabalho de autoquestionamento e verá montões de preconceitos travestidos de "ideologias" ou "preferências".

O grande problema do preconceito é a teorização elitista que fundamenta a sua prática. Ora, se eu estou certo, e aquele sujeito errado, o errado deve ser banido para que a raça humana torne-se melhor. Ou os indivíduos "inferiores" devem ser tratados como tal, tendo talvez, o privilégio de servir aos "superiores" a ele. Essas ideologias patéticas fundamentam e justificaram atos extremos de violência na história e ainda o fazem.
Então o objeto de combate não é o fenômeno do preconceito e sim as ideologias que o sustentam. O preconceito gera intolerância e rivalidade.

O grupo campeão absoluto, em todas as modalidades, de sofrer preconceito, é o  dos ciganos. São considerados sujos, vagabundos, bêbados, ladrões, etc. E sofrem esse preconceito, não só pelos grupos dominantes, como também, por membros das minorias perseguidas, citadas acima. Por serem alvos de preconceitos por praticamente todos os que não são ciganos - os gadjé, são verdadeiramente uma minoria absoluta e seriamente ameaçada.

É absolutamente necessário e urgente políticas pró-ciganos em todo o mundo, com leis tratando e amparando, se não, os direitos como cidadãos natos de uma determinada pátria, os direitos humanos.

Na constituição da República Federativa do
Brasil promulgada em 1988 existem alguns artigos que por extensão podem também ser aplicados
aos ciganos.
No artigo 3° evidencia-se como um dos objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil a promoção do bem a todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação. No artigo 5° está escrito que todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no
país, inviolabilidade de direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Desta
maneira, observa-se na Constituição Brasileira o direito a não-discriminação, o que na maioria das
vezes só fica na teoria.
Ainda no artigo 5º percebe-se o direito à livre locomoção no território nacional em tempo
de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com
seus bens. Esse, provavelmente, é o direito mais importante para a maioria dos ciganos, o direito
à livre locomoção.
Nota-se, portanto, na Constituição brasileira a garantia de alguns direitos que cabem
também aos ciganos. Porém, na prática, conforme já foi mencionado, muitos destes direitos são
constantemente ignorados e violentado ( Ademir Divino Vaz em "Um Território Cigano)
Ocorre que entre grupos ciganos em todo o mundo, ou no mesmo território, existe preconceitos em relação à origem, tradição, cultura e status social.
Creio que os ciganos, embora já existam associações e alguns movimentos próprios do grupo, em relação aos seus direitos, devem unir-se de modo mais efetivo e prático.


Os Principais Grupos Ciganos

Atualmente existe um sem-número de grupos e subgrupos ciganos, sendo os mais expressivos no presente os seguintes:

Rom ou roma propriamente ditos, presentes na Europa centro-oriental e, a partir do século XIX, também em outros países europeus e nas Américas;
Sinti, encontrados na Alemanha, bem como em áreas germanófonas da Itália e da França, onde também são chamados manoush;

Kalon - Os componentes deste grupo fixaram residêcnia especialmente na Espanha e Portugal, onde sofreram severas perseguições, pois sendo estes países profundamente católicos e conservadores, não podiam admitir os costumes ciganos, tanto que foram proibidos de falar seu idioma, usar suas vestes típicas e realizar festas e cerimônias segundo suas tradições. O que os ciganos sofreram na Península Ibérica, lembra de certa maneira o que s negros sofreram em terras do Brasil.
Os ataques da realeza ao grupo Kalon foram tão rigorosos, que ele foi obrigado a criar dialeto, mescla de seu próprio idioma com o português e o espanhol, em particular em Portugal, onde as proibições não foram verbais, mas determinadas por decreto do rei D.João V. Apesar de todos os sofrimentos o Clã Kalon sobrevive até os dias atuais, sendo um dos grupos que mais fielmente segue as tradições ciganas. Tem-se que os Kalons originaram-se do antigo Egito.

Moldávio - De pele mais clara e olhos azuis, este grupo originou-se em terras da Rússia, tendo de enfrentar os rigores do inverno russo em suas precárias carroças. Sob as pesadas roupas e capotes escuros mal reconhecemos sua origem cigana. A denominação moldávio vem da palavra Moldávia, república da Europa Central, que chegou a fazer parte do Império Russo e da antiga URSS. Há poucas diferenças entre o dialeto moldávio e o romeno; contudo, distinguem-se fortemente na escrita, uma vez que o moldávio adoou o alfabeto cirílico (Dicionário aurélio).

Horananô - Surgiram em terras turcas e se destacaram em especial como grandes criadores de cavalos. Os integrantes deste grupo chegaram ao Brasil bem depois do grupo Kalon, somente no final do século XVIII.

Karderash e Matchuaya - Os ciganos do grupo karderash são originários da Romênia e da antiga Iuguslávia, o berço dos Matchuaya. Ambos os grupos chegaram ao Braisl no final do século XVIII. Os primeiro s ciganos a chegarem no Brasil eram do grupo Kalon e vieram de Portugal em meados do século XVII. Portugal, necessitando de mestres de forja no Brasil, enviou-os para cá para que fabricassem ferraduras, armamentos e ferramentas. Faziam também artesanalmente utensílios domésticos, alambiques para o fabrico da cachaça, famosos até hoje por sererm extremamente bem feitos e resistentes. (dados de culturacigana.com)

Romnichals, principalmente presentes no Reino Unido, inclusive colônias britânicas, nos Estados Unidos e na Austrália.

Claudia Baibich

Crédito de imagens
http://holocausto-doc.blogspot.com/2010/08/ciganos-historia-preconceito.html
http://signogitana.wordpress.com/2009/01/07/como-e-ser-cigana-no-seculo-xxi/

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