terça-feira, 2 de agosto de 2011

Estudo do baralho cigano: o arquétipo da serpente

Por Claudia Baibich

O que você sente quando pensa em uma serpente?
A maioria absoluta irá sentir medo ou repulsa.
Muitos são os animais que oferecem riscos de morte, mas por que a serpente nos causa tamanha aflição?
Essa angústia poderia ser entendida como uma reação arcaica, ancestral e incosnsciente.
Mas creio que sua associação com sexualidade e traição, seja o motivo dessa rejeição absoluta a esse animal
:
Gênesis 3:13, "Perguntou o Senhor Deus à mulher: Que é isto que fizeste? Respondeu a mulher: A Serpente enganou-me, e eu comi" - (o fruto proibido)
Telúrica, básica, primitiva, está associada ao chakra básico e aos instintos primitivos.


A serpente judaico-cristã ou Lilith

Para alguns estudiosos, a serpente era Lilith, que teria sido a primeira mulher de Adão. A serpente seria o agente de tentação, que estimularia em Eva o desejo de : traição, desobediência, revolução, sensualidade, curiosidade, cobiça, poder, etc. Como consequência, gerou o pecado, a queda e a responsabilidade pelo ato.

A semente da serpente
Uma "revelação"  que faz parte da "Mensagem", uma doutrina  religiosa criada por  William Branham. A semente da serpente teria sido introduzida na humanidade através da cópula entre Eva e Satanás. Ou seja, Eva teria mantido contato sexual com a serpente. Esse seria o verdadeiro ato do pecado original, gerando a linhagem da maldade através de Caim.

No Egito
Era associada ao deus Rá e à  Nehebkau, ("aquele que se aproveita das almas") era o deus que guardava a entrada do mundo subterrâneo.   descrito dentro como uma serpente com duas cabeças (ocasionalmente com somente uma).

Mesoámerica
Para os astecas, toltecas e maias, uma das principais divindades adoradas era Quetzalcóatl ( a serpente implumada, pássaro serpente ou pássaro de guerra).
Essa deidade representa a energia telúrica (serpente que se arrasta pela terra ) que ascende ao espiritual (ave que ruma para o céu). Significando para seus cultuadores o alimento físico e o espiritual.


A serpente como Ouroboros
a serpente que morde a própria cauda, um símbolo que traz a ideia de movimento, ciclo, eternidade, eterno retorno, da descida do espírito ao mundo físico e o seu regresso ao mundo espiritual.
Na alquimia é símbolo da transmutação da matéria, e sinal de purificação.
Para os Gnósticos representa a auto-sustentação da natureza, que se recria da própria destruição.
Pode ser também visto como símbolo de unidade e Interdependência. (Apenas lembrando que ouroboros também é representado graficamente, por um dragão mordendo a própria cauda).


A Serpente no culto aos Orixás
O orixá Ewá e mais especificamente o orixá Oxumaré, cultuados no candomblé têm uma ligação com a serpente.
Nas lendas de Ewá, encontram-se algumas versões em que ela seria inicialmente uma "cobra má" que teria transmutado sua natureza perversa para bondosa e bela.
Em Oxumaré a cobra refere-se ao ciclos eternos e necessários. Sendo a cobra e o arco íris seus principais símbolos.

A serpente na psicologia analítica
Jung percebe a  serpente como um símbolo de transcendência, devido à sua natureza dual — é um ser que se arrasta, estando em contato estreito com a terra e com o ar. Assim, a serpente representa a transição de uma forma de consciência mais restrita — terra — para outra mais vasta — ar.


Vishnu reclining on the serpent Ananta
Painting
India
about 1850-1870
Museum no. D.419-1889
 A serpente no hinduísmo

Ananta, a serpente cósmica, simboliza o atemporal. Presente em quase todas as deidades hindus e junto de sábios, atrás de suas cabeças. significando o despertar.
A serpente, como símbolo de sabedoria passa pela posição erguida da cabeça; é quando ela está “desperta”, pois as demais posições são o dormir e o rastejar… Assim, o homem quando ainda não despertou espiritualmente, não só dorme como “rasteja”: arrasta-se na vida sem um objectivo elevado para viver.
Os antigos cultos da Índia encontram-se ligados à serpente pela tradição dos Nāgas considerados como seres supra-humano, dotados de intuição e poderes milagrosos.  No Hinduísmo, a mitologia coloca a serpente cósmica Ananta servindo de encosto a Viṣṇu, o supremo procriador do universo. A serpente de cabeça múltipla Ananta, Infinito, formada das águas cósmicas do abismo, da terra e das regiões superiores e subterrâneas juntamente com todos os seres. Os três mundos estão em equilíbrio sobre as cabeças das serpentes que formam um capuz. Śeṣa, o rei dos nāgas (serpentes) é o antepassado de todas as serpentes que vivem sobre a terra.
A naja
Ao usar uma serpente em volta da cintura e do pescoço simboliza que Shiva dominou a morte e tornou-se imortal.
Na tradição da ioga:
ela também representa kundalini, a energia de fogo que reside adormecida na base da coluna. Quando despertamos essa energia, ela sobe pela coluna, ativando os centros de energia (chakras) e produzindo um estado de hiperconsciência (samádhi), um estado de consciência expandida.

A serpente no budismo

sob uma outra árvore do Iluminação, está o Buda sentado em posição de meditação. Quando uma tempestade se levantou, uma serpente  levantou-se acima da caverna subterrânea e envolveu o Buda em sete espirais por sete dias, para não interromper o estado de meditação.
Na iconografia budista, o Buddha é representado com a serpente por detrás da cabeça.  No mosteiro budista de Nālanda no norte da Índia, durante escavações arqueológicas, descobriram-se representações do Buddha com cabeças de serpentes, geralmente são sete, formando um capuz ao redor da cabeça, obra de estilo clássico do período Gupta do século V, dC.
Considerada um naga (Um termo usado para se referir aos animais fortes, majestosos e heróicos, como os elefantes e as serpentes mágicas)

A serpente no xamanismo indígena

É considerada como um "animal de poder" e está presente como força de cura, regeneração e transformação. Tendo a capacidade de "comer as doenças" mais graves que acometem o ser humano.

A serpente como forma-pensamento

A serpente é referida algumas vezes na literatura espírita e ocultista como forma pensamento negativa, em volta de determinado chakra ou em toda a aura do indivíduo acometido de "envenenamento" físico ou emocional, causado por suas próprias criações mentais destrutivas ou em indivíduos vítimas de magias, feitiços e ataques psíquicos.

A serpente  na mitologia greco-romana e como símbolo da medicina

Estátua de Esculápio no museu
do Teatro de Epidauro, Grécia

Esculápio ou Asclépio,  não fazia parte dos deuses do Olimpo, mas era o deus da cura, por conseguinte da medicina. S ua referência mais anntiga é encontrada na Ilíada de Homero, considerado um mortal, descrito como o governante de Tricca e também como um médico. Esculápio pode ter existido de fato, vivendo em torno de 1200 a.C., e sido mais tarde divinizado.
Em uma de suas lendas, Esculápio estava atendendo Glauco, que já estava morto. Ele vê uma serpente que o ameaçava e a mata com o seu bastão. Em seguida uma segunda serpente aparece com a boca cheia de ervas e colocando-as na boca da cobra morta, esta renasce. Esculápio usa essas ervas, também colocando-as na boca de Glauco e o ele revive.


A serpente no bastão de Esculápio, tornou-se o símbolo da medicina, significando a capacidade de regenerar-se periodicamente, abandonando sua pele velha e "renascendo".
Mas a origem do símbolo é considerada bem anterior aos gregos, remontando em torno de 5 mil anos, na Mesopotâmia, como o bastão símbolo do deus  Ningizzida , o deus da fertilidade, do matrimonio e das pragas.
Os gregos e os romanos associavam também a serpente ao deus apolo, pelo que o mesmo havia matadoa píton de  delfos.
Na teogonia, Hesíodo narra  sobre Ládon, um dragão com corpo de serpente. Ládon era  o guardião da árvore de Hera ( a macieira com frutos de ouro).
Estão relacionados com a serpente na mitologia greco romana: A grande Deusa mãe minoica, Potnia Theron, o herói Héracles, a Hidra de Lerna, entre outros. 


A SERPENTE (COBRA)  NA LEITURA DO  BARALHO CIGANO
Iniciei o texto indagando o que significa para você leitor, a figura de uma serpente. Porque os arquétipos embora universais, particularizam-se na individualidade do sentido que o significado assume.
Para um leitor de cartas ciganas ou tarot, é importante o que exatamente aquela figura representada na carta, está "dizendo".

Para facilitar, algumas palavras que podem ajudar na hora da leitura:
Manifestação positiva:
energia telúrica, energia vital, renovação, regeneração, fertilidade, sexualidade, astúcia, instinto, domínio, poder, força, cura, segredo, algo bem guardado ou vigiado, ciclo, retorno, sabedoria, conhecimento, causa e efeito, assumir consequências, escolher entre o bem e o mal, escolher entre o certo e o errado, consciência desperta, algo sinuoso, escorregadio, etc ...


Manifestação negativa:
medo, emboscada, traição, feitiçaria, morte, veneno, doença, repulsa, pânico, ação interrompida, paralisação, trauma, bloqueio, perigo, desvios e transgressões sexuais gerando sexualidade promiscua ou abstinência, sofrimento, falta de energia,desconfiança, auto envenenamento, inveja, "pecado", "tentação"...


A posição da carta da cobra ou serpente no jogo do baralho cigano, bem como as cartas a ela associadas vão reforçar qual o padrão está indicando na vida da pessoa para a qual a leitura esteja sendo realizada.
Minha intenção é estimular o estudo dos arquétipos nas leituras do baralho cigano e não ensinar a ler cartas.

Percorri um caminho rico em simbolismo, mas de modo superficial, apenas para "despertar" no leitor um interesse de aprofundamento no tema.
Bons estudos.

Claudia Baibich

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