segunda-feira, 16 de agosto de 2010

França em pé de guerra por causa do desmantelamento de acampamentos ciganos





Já 40 aglomerados ilegais de imigrantes roma foram desmontados, no que foi comparado às prisões em massa durante a Segunda Guerra Mundial
O desmantelamento de acampamentos de roma (ciganos), pondo em prática a nova política securitária do Governo francês, conseguiu este fim-de-semana despertar críticas à direita e à esquerda, e até vindas do seio do partido no poder, a UMP.

O deputado Jean-Pierre Grand, amigo do ex-Presidente Jacques Chirac e do seu primeiro-ministro Dominique de Villepin, denunciou vivamente a "política ignóbil de desmantelamento dos acampamentos ilegais", depois de 70 roms (ciganos) terem sido afastados sábado da região de Montreuil, nos arredores de Paris.

"Não se pode ser deputado e deixar fazer isso sem reagir, quando se descobre que as forças da ordem, intervindo de manhã cedo, separam as famílias, os homens para um lado e as mulheres e as crianças para outro, com a ameaça de separar mães e filhos", afirmou Grand. Este deputado já esteve suspenso da União para um Movimento Popular (UMP, de centro-direita) por contradizer afirmações do Presidente Nicolas Sarkozy.

"Estes métodos recordam as prisões em massa na Segunda Guerra", sublinhou, pedindo a demissão do prefeito de Seine-Saint-Denis devido ao que se verificou no acampamento de Montreuil.

Quanto à antiga ministra Christine Boutin, líder do Partido Cristão-Democrata, associado à UMP, alertou o Governo para uma política que, no seu entender, tem como consequência "colocar as pessoas umas contra as outras". Numa entrevista ao Parisien, considerou que "a estigmatização desta ou daquela comunidade exarceba a violência".

Recambiados

A França está sob críticas crescentes por causa das rusgas aos acampamentos ilegais de ciganos - nas últimas duas semanas, 40 acampamentos de roma (provenientes sobretudo da Roménia e da Bulgária) foram desmantelados, e o Governo tem o objectivo expresso de desmantelar metade dos acampamentos ilegais (300) nos próximos três meses.

O ministro do Interior, tido como "homem de mão" de Sarkozy, tem dito que os roma seriam recambiados para os seus países de origem, em "voos especialmente fretados". Setecentas pessoas, disse na quinta-feira, estariam já prestes a ser alvo desse repatriamento.

O endurecimento da política securitária por parte de Sarkozy, que quer retirar a nacionalidade a "delinquentes de origem estrangeira", tem deparado com acusações de xenofobia.

Na semana que passou, o Comité para a Eliminação da Discriminação Racial das Nações Unidas, que apreciou a situação vivida em França, criticou a "falta de vontade política" face a um "recrudescimento" dos actos racistas e xenófobos" no país. Criado para verificar a aplicação da Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 1965, o comité debruçou-se sobre a França numa apreciação de rotina mas centrou-se nas recentes declarações de Sarkozy.

A UMP, o Eliseu e o Governo reagiram indignados às críticas - que não são ainda as recomendações finais, que só deverão ser emitidas no fim do mês. "Não há nenhuma vontade de estigmatizar uma comunidade, trata-se apenas de fazer respeitar a lei", garantiu o ministro Hortefeux.

Enquanto isto, o Centro Europeu dos Direitos Roma colocou à consideração deste comité da ONU um comunicado do Eliseu no qual se referia a "situação inaceitável" de acampamentos ilegais de roma, que seriam fonte de tráficos ilícitos e da exploração de crianças para mendicidade, prostituição ou crime.

Tais declarações podem, no entender desta entidade jurídica de interesse público, com sede em Budapeste, "promover ou incitar a discriminação racial, o ódio e actos violentos".

Por Jorge Heitor

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